Talvez você já tenha visto listas com características de quem tem algum transtorno mental e pensado “É isso! Eu sou exatamente assim”. Depressão, Ansiedade, TDAH, TDA, Bipolaridade… não importa, a internet está recheada de testes pra todo tipo de coisa.
Não é preciso dizer que só profissionais podem de fato diagnosticar algum desses transtornos. O que preciso dizer é que é quase um sonho ser diagnosticado com algum deles. Não é que eu queira um transtorno. É que se eu tenho, gostaria de saber. Seria muito melhor saber que existe um agravante na dificuldade que é ser eu.
A minha aposta maior aposta é Ansiedade. É incrível que quando a crise explode aqui dentro de mim o que acontece de verdade pouco importa. Não importa o sol, as notícias boas, os bons ventos… tudo se torna cinza e gélido.
Passo a pensar mil vezes sobre mil coisas. Desdobro possibilidades infinitas sobre as coisas mais improváveis e não conseguir organizar ou diminuir a importância na minha mente, daquilo que de fato pouco importa vai me sugando. Penso no que vai acontecer se sem querer eu esbarrar em um carro alheio.
Pode ser que amasse. Se amassar e o dono ver, pode ser que ele venha me cobrar. Pode ser que ele venha já agressivo. Pode ser que ele tenha uma barra de ferro na mão. O que há perto para me defender? E se eu na minha defesa o matar? Se o cadáver for de uma pessoa branca e rica, certeza que vão me condenar. E na cadeia? Eu vou ter que entrar para alguma facção pra não ser abusado? Eu não queria. Nem entrar pra uma facção e nem ser abusado.
A medida que foi pensando em todos os caminhos que a vida pode me levar, vou me tornando mais vazio. Mais apático, mais fraco. Quando tudo finalmente passar serei um saco vazio voando ao relento. Enquanto não passa vou vivendo todas as dores possíveis.
A diferença é que agora, viajando não há um lugar meu pra me esconder nas tempestades. Já viu os pinguins de Madagascar dizendo: – Sorria e Acene.
Este sou eu durante minhas crises. Dentro, tudo acontece. Fora, sorrio e aceno.
Sorrio, aceno e trabalho.
É curioso perceber que durante estes dias minha existência é miserável. Nunca fiz um controle rígido da frequência de crises, mas eu chutaria que 90% dos dias eu estou bem. Não é fácil. Fico imaginando que vive com 50/50 ou mais. Deve ser muito muito difícil viver assim. Deve não. Eu sei que é. Porque nestes 10% eu deixo de ser gente. Deixo de ser animal. Eu deixo de ser. Sou nada.
Que desespero! Que desespero!
Me embriagar ajuda. Mas e quem vive 50/50? O alcoolismo deve estar logo ali. Correr também me ajuda. Preciso achar um local de corrida logo.
Hoje foi um dia de sol lá fora. Mas de trevas dentro de mim.